quarta-feira, 31 de agosto de 2011

4º e 5º Dias de Filmagem: Duas Festas e um Desastre

Pesquisa e considerações
Um dos principais requisitos do tema deste documentário – tentar mostrar mudanças e semelhanças no hábito de beber entre as gerações – era filmar uma festa de faculdade. Além de ser um hábito talvez mais comum do que ir a casas noturnas entre os universitários e de ser uma óbvia oportunidade de abordar muitos deles, é também uma ótima maneira de filmar imagens de festa com mais qualidade (por causa da luz, já que boa parte delas se dá em ambientes abertos e mais bem iluminados que os “inferninhos”) e facilidade (uma vez que é praticamente impossível obter autorização para filmar dentro de uma balada, ainda mais se você não trabalha para uma emissora grande de TV).


Por que então não filmar o Happy Hour semanal - que já virou balada - mais famoso e cheio do maior campus universitário paulistano, a Cidade Universitária? Inicialmente, hesitei em tomar esta decisão óbvia devido a minha enorme familiaridade com a festa. A “Quinta i Breja”, carinhosamente apelidada de “QiB” por seus frequentadores assíduos, acontece toda quinta-feira letiva no espaço de vivencia do estudantes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e sua organização se reveza entre as gestões do Centro Acadêmico e da Atlética. Ou seja, além de frequentá-las rotineiramente, uma vez que estudo Jornalismo Noturno nesta faculdade, ajudei a organizar muitas delas enquanto fiz parte de gestões do C.A. e era muito raro encontrar um rosto desconhecido por ali. Por isso, achei que essa familiaridade poderia interferir demais no meu olhar sobre o local e, pior, seria muito estranho e falso entrevistar conhecidos, ainda que apenas de vista.

Vista de dentro: caixa de uma das muitas Quinta i Brejas organizadas pelo C.A.



Show no Canil, espaço ocupado pelos estudantes na Prainha da ECA, durante QiB
Mesmo assim, achei que valia muito a pena gravar, ao menos, imagens da festa acontecendo, já que seria um excelente material de “cobertura” para usar na hora de edição. E com a melhor aquisição do ano, minha lente 50mm1.8f, poderia filmar tudo sem chamar muita atenção, pois não precisaria de iluminação artificial e a câmera é pequena e leve. Além disso, não precisaria de microfone ou gravador externo à câmera, já que não iria gravar entrevistas, apenas o som ambiente.

Primeira QiB
Então, na quinta-feira 18/08/11, a primeira QiB do C.A. deste semestre (no começo do semestre, elas costuma ser mais cheias e animadas), parti para minha primeira filmagem sozinha neste documentário. Cheguei por volta das 17h à ECA e aproveitei para filmar o local quase vazio antes de ser tomado pela festa de vários ângulos (inclusive, do alto), além de fazer imagens de contextualização – como indicado pelo meu orientador – da escola e de seu entorno, para que o espectador possa se localizar e reconhecer melhor o local, caso não o conheça. Além disso, filmei o pessoal trabalhando para montar o “bar” enchendo freezers com gelo e latas de cerveja. Fui filmando a festa se enchendo, as pessoas conversando, muitos copos subindo e descendo, até que a coisa começou a esquentar e consegui imagens de uma barraca de destilados, um show de alunos e muita gente dançando. Filmei até umas 23h.


Prainha (espaço aberto de vivência dos estudantes) da ECA à tarde, antes da QiB

Montagem de freezer de cerveja para abastecer a festa

Naquela QiB, percebi que o público já havia mudado muito e que agora eu podia contar nos dedos os conhecidos, em vez dos desconhecidos – afinal, já estou no 5º ano do curso e não conheço muita gente dos primeiros anos, além de a Quinta i Breja ter se tornado mais popular entre alunos de outras faculdade do campus, que também não conheço. Decidi então filmar outra QiB, desta vez, só para fazer entrevistas.

Segunda QiB
Na quinta-feira seguinte, 25/08/11, voltei à Quinta i Breja, desta vez, mais tarde e com uma ajudante: Taiana Ferraz, que fez a câmera principal e única – nem cogitei usar 2º câmera desta vez por causa das condições de iluminação, já que a handycam precisaria de iluminação artificial para captar alguma coisa. A acredito que esse tipo de coisa intimida muito mais as pessoas, além de se correr o risco de tornar as cenas mais artificiais e, ainda pro cima, contabilizar o fato de que seria muito caro alugar equipamento de iluminação e dificílimo encontrar alguém para operá-lo.

Chegamos por volta das 22h e montamos rapidamente o equipamento: a Canon T3i com a lente 50mm1.8f no tripé (já que era preciso mais estabilidade devido à grande abertura da lente e para a captação do som, que desta vez seria gravado pela câmera*) e um microfone boom emprestado da faculdade e acoplado direto na câmera, que eu mesma segurava enquanto entrevistava.

*Seria muito melhor gravar o som em um aparelho à parte, no entanto, novamente, fui surpreendida pela precariedade que é fazer um documentário praticamente sozinha e com a ajuda de amigos: o gravador zoom que usamos nas filmagens anteriores é emprestado de um amigo do Gabriel Portella, que tem feito a câmera principal; no entanto, ele não pode filmar de quinta à noite, logo, seu amigo sabiamente não quis emprestar seu equipamento para estranhos. Não tenho, não conheço ninguém que tenha, o departamento de Jornalismo da ECA não tem e o técnico de som com quem aluguei um microfone para a primeira filmagem também não tem um gravador deste tipo ou outro de qualidade superior à do meu “handy recorder” muito primário. O gravação de som da câmera é boa, mas é preciso acoplar um boom em ambientes barulhentos como a QiB e triplicar o cuidado com ruídos e movimentos durante a filmagem.

Mesmo assim, bancamos o risco e filmamos desta maneira, afinal, no dia anterior, havia filmado uma entrevista (que será descrita no próximo post) com o mesmo equipamento e o resultado foi satisfatório. Testamos o som e tudo parecia bem, então começamos a buscar entrevistados.

No começo foi difícil conseguir pessoas dispostas a falar, o que me surpreendeu, porque achava que seria muito mais difícil fazer pessoas mais velhas falarem do que os mais jovens. Pouco a pouco, os níveis de álcool no sangue foram aumentando e fomos conseguindo entrevistados de todos os tipos e com as mais diversas opiniões. Alguns depoimentos foram especialmente sinceros e tocantes. Houve também uma interessante interação de uma entrevistada comigo, a entrevistadora, que chegou a pegar o microfone e inverter os papéis, me fazendo perguntas.


Venda de bebidas durante a QiB

Aglomeração durante a festa

Foi tudo muito bem e ainda filmamos mais imagens de festa, já que esta QiB estava ainda mais animada que a anterior. Saímos de lá por volta da 1h30 da manhã.

O desastre
Ainda estava empolgada com a filmagem do dia anterior, quando resolvi passar os arquivos para o computador, para ver o resultado. Foi então que me dei conta da catástrofe: o boom falhou e não gravou nenhuma entrevista! Sim, isso mesmo, uma noite inteira de trabalho por água abaixo! E tudo isso pela falta de um mísero plug  na bendita câmera para conectar um fone de ouvido e acompanhar a gravação do áudio ao vivo.

Fiquei transtornada pensando como deixamos passar aquilo, uma vez que testamos o som antes de começar a entrevistar. Abrindo os primeiros arquivos, me dei conta do equívoco fatal: filmamos um pouco sem o boom, só com o microfone normal da câmera, para testar a luz e o som foi captado normalmente. Mas, na hora, achei que não tinha filmado esses testes, apenas ajustado a câmera sem apertar o rec. Depois, conectamos o boom e filmamos um pouco a primeira entrevistada falando qualquer coisa. Quando fomos ver e ouvir a gravação, ouvimos as primeiras, sem o boom conectado e, como o local era muito barulhento, não havia entrada para fone e tampouco local afastado seguro para testar o equipamento sem tanto barulho, achamos que o microfone estava funcionando.

Acontece! É isso o que se ouve de todo mundo ao contar o desastre. E acontece mesmo, ainda mais pra uma documentarista de primeira viagem – tinha dado tudo muito certo até então! Ainda não sei exatamente qual lição tirar do ocorrido, mas arrisco duas:

1 – Gravar com um dispositivo à parte da câmera e que permita o monitoramento de som durante a filmagem. Ou seja, vou ter que ir atrás de alugar ou comprar um gravador zoom.

2 – Quando não for possível usar esse gravador externo, testar o microfone antes de chegar ao local da gravação e, lá, dar um jeito - nem que seja tapando os ouvidos, entrando num carro, no banheiro, qualquer coisa - de conferir o áudio depois de cada entrevista, em vez de apenas uma vez antes de filmar. “Solução” bem precária, mas é isso aí se meter a fazer filme sem produtora!

Fiquei muito chateada, ainda mais porque tínhamos conseguido alguns personagens sensacionais que serão muito difíceis de encontrar novamente. Mas não se pode desanimar. Bola pra frente que ainda temos muito o que filmar! Apesar de tudo, ainda acho que esta aventura vale muito a pena!

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