terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Assista ao PILEQUE on-line!

Isso mesmo, pessoal! Desde a última postagem por aqui, muita coisa mudou no Pileque: ele passou de projeto a documentário propriamente dito! E ganhou até subtítulo: "PILEQUE: Gerações entre umas e outras".

Após meses de edição, o filme ficou com 40 minutos e foi apresentado, em 1/12/2011, como TCC de Jornalismo à ECA - USP, com banca composta pelo orientador José Cintra e os convidados Ninho Morais,  diretor de cinema e TV, e Maurício Fiore, antropólogo. O trabalho foi aprovado e já está disponível (parte escrita + DVD) na bibliotECA.

Depois disso, decidi adequar a edição para disponibilizar o filme, na íntegra, on-line. Apanhei um bocado para colocar "blur" nos rostos de menores de idade no programa After Effects - não ficou perfeito, mas deu certo. Também dividi o documentário em 4 partes de, aproximadamente, 10 minutos cada, para que não demore tanto para carregar.

O resultado está no canal do Youtube:
http://www.youtube.com/user/pilequefilmes

E no canal de mesmo nome do Vimeo:
http://vimeo.com/user9966300

Além disso, ficará na home page da UNIAD - Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da UNIFESP, que faz um incrível trabalho de divulgação científica, por um tempo. Mas permanecerá sempre na seção de vídeos do site.

O objetivo deste projeto é estimular a discussão sobre o consumo do álcool no dia-a-dia. Hábito, aparentemente, banal que afeta profundamente as vidas de todos. Por isso, assistam e ajudem a divulgá-lo!

Muito obrigada ;)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

4º e 5º Dias de Filmagem: Duas Festas e um Desastre

Pesquisa e considerações
Um dos principais requisitos do tema deste documentário – tentar mostrar mudanças e semelhanças no hábito de beber entre as gerações – era filmar uma festa de faculdade. Além de ser um hábito talvez mais comum do que ir a casas noturnas entre os universitários e de ser uma óbvia oportunidade de abordar muitos deles, é também uma ótima maneira de filmar imagens de festa com mais qualidade (por causa da luz, já que boa parte delas se dá em ambientes abertos e mais bem iluminados que os “inferninhos”) e facilidade (uma vez que é praticamente impossível obter autorização para filmar dentro de uma balada, ainda mais se você não trabalha para uma emissora grande de TV).


Por que então não filmar o Happy Hour semanal - que já virou balada - mais famoso e cheio do maior campus universitário paulistano, a Cidade Universitária? Inicialmente, hesitei em tomar esta decisão óbvia devido a minha enorme familiaridade com a festa. A “Quinta i Breja”, carinhosamente apelidada de “QiB” por seus frequentadores assíduos, acontece toda quinta-feira letiva no espaço de vivencia do estudantes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e sua organização se reveza entre as gestões do Centro Acadêmico e da Atlética. Ou seja, além de frequentá-las rotineiramente, uma vez que estudo Jornalismo Noturno nesta faculdade, ajudei a organizar muitas delas enquanto fiz parte de gestões do C.A. e era muito raro encontrar um rosto desconhecido por ali. Por isso, achei que essa familiaridade poderia interferir demais no meu olhar sobre o local e, pior, seria muito estranho e falso entrevistar conhecidos, ainda que apenas de vista.

Vista de dentro: caixa de uma das muitas Quinta i Brejas organizadas pelo C.A.



Show no Canil, espaço ocupado pelos estudantes na Prainha da ECA, durante QiB
Mesmo assim, achei que valia muito a pena gravar, ao menos, imagens da festa acontecendo, já que seria um excelente material de “cobertura” para usar na hora de edição. E com a melhor aquisição do ano, minha lente 50mm1.8f, poderia filmar tudo sem chamar muita atenção, pois não precisaria de iluminação artificial e a câmera é pequena e leve. Além disso, não precisaria de microfone ou gravador externo à câmera, já que não iria gravar entrevistas, apenas o som ambiente.

Primeira QiB
Então, na quinta-feira 18/08/11, a primeira QiB do C.A. deste semestre (no começo do semestre, elas costuma ser mais cheias e animadas), parti para minha primeira filmagem sozinha neste documentário. Cheguei por volta das 17h à ECA e aproveitei para filmar o local quase vazio antes de ser tomado pela festa de vários ângulos (inclusive, do alto), além de fazer imagens de contextualização – como indicado pelo meu orientador – da escola e de seu entorno, para que o espectador possa se localizar e reconhecer melhor o local, caso não o conheça. Além disso, filmei o pessoal trabalhando para montar o “bar” enchendo freezers com gelo e latas de cerveja. Fui filmando a festa se enchendo, as pessoas conversando, muitos copos subindo e descendo, até que a coisa começou a esquentar e consegui imagens de uma barraca de destilados, um show de alunos e muita gente dançando. Filmei até umas 23h.


Prainha (espaço aberto de vivência dos estudantes) da ECA à tarde, antes da QiB

Montagem de freezer de cerveja para abastecer a festa

Naquela QiB, percebi que o público já havia mudado muito e que agora eu podia contar nos dedos os conhecidos, em vez dos desconhecidos – afinal, já estou no 5º ano do curso e não conheço muita gente dos primeiros anos, além de a Quinta i Breja ter se tornado mais popular entre alunos de outras faculdade do campus, que também não conheço. Decidi então filmar outra QiB, desta vez, só para fazer entrevistas.

Segunda QiB
Na quinta-feira seguinte, 25/08/11, voltei à Quinta i Breja, desta vez, mais tarde e com uma ajudante: Taiana Ferraz, que fez a câmera principal e única – nem cogitei usar 2º câmera desta vez por causa das condições de iluminação, já que a handycam precisaria de iluminação artificial para captar alguma coisa. A acredito que esse tipo de coisa intimida muito mais as pessoas, além de se correr o risco de tornar as cenas mais artificiais e, ainda pro cima, contabilizar o fato de que seria muito caro alugar equipamento de iluminação e dificílimo encontrar alguém para operá-lo.

Chegamos por volta das 22h e montamos rapidamente o equipamento: a Canon T3i com a lente 50mm1.8f no tripé (já que era preciso mais estabilidade devido à grande abertura da lente e para a captação do som, que desta vez seria gravado pela câmera*) e um microfone boom emprestado da faculdade e acoplado direto na câmera, que eu mesma segurava enquanto entrevistava.

*Seria muito melhor gravar o som em um aparelho à parte, no entanto, novamente, fui surpreendida pela precariedade que é fazer um documentário praticamente sozinha e com a ajuda de amigos: o gravador zoom que usamos nas filmagens anteriores é emprestado de um amigo do Gabriel Portella, que tem feito a câmera principal; no entanto, ele não pode filmar de quinta à noite, logo, seu amigo sabiamente não quis emprestar seu equipamento para estranhos. Não tenho, não conheço ninguém que tenha, o departamento de Jornalismo da ECA não tem e o técnico de som com quem aluguei um microfone para a primeira filmagem também não tem um gravador deste tipo ou outro de qualidade superior à do meu “handy recorder” muito primário. O gravação de som da câmera é boa, mas é preciso acoplar um boom em ambientes barulhentos como a QiB e triplicar o cuidado com ruídos e movimentos durante a filmagem.

Mesmo assim, bancamos o risco e filmamos desta maneira, afinal, no dia anterior, havia filmado uma entrevista (que será descrita no próximo post) com o mesmo equipamento e o resultado foi satisfatório. Testamos o som e tudo parecia bem, então começamos a buscar entrevistados.

No começo foi difícil conseguir pessoas dispostas a falar, o que me surpreendeu, porque achava que seria muito mais difícil fazer pessoas mais velhas falarem do que os mais jovens. Pouco a pouco, os níveis de álcool no sangue foram aumentando e fomos conseguindo entrevistados de todos os tipos e com as mais diversas opiniões. Alguns depoimentos foram especialmente sinceros e tocantes. Houve também uma interessante interação de uma entrevistada comigo, a entrevistadora, que chegou a pegar o microfone e inverter os papéis, me fazendo perguntas.


Venda de bebidas durante a QiB

Aglomeração durante a festa

Foi tudo muito bem e ainda filmamos mais imagens de festa, já que esta QiB estava ainda mais animada que a anterior. Saímos de lá por volta da 1h30 da manhã.

O desastre
Ainda estava empolgada com a filmagem do dia anterior, quando resolvi passar os arquivos para o computador, para ver o resultado. Foi então que me dei conta da catástrofe: o boom falhou e não gravou nenhuma entrevista! Sim, isso mesmo, uma noite inteira de trabalho por água abaixo! E tudo isso pela falta de um mísero plug  na bendita câmera para conectar um fone de ouvido e acompanhar a gravação do áudio ao vivo.

Fiquei transtornada pensando como deixamos passar aquilo, uma vez que testamos o som antes de começar a entrevistar. Abrindo os primeiros arquivos, me dei conta do equívoco fatal: filmamos um pouco sem o boom, só com o microfone normal da câmera, para testar a luz e o som foi captado normalmente. Mas, na hora, achei que não tinha filmado esses testes, apenas ajustado a câmera sem apertar o rec. Depois, conectamos o boom e filmamos um pouco a primeira entrevistada falando qualquer coisa. Quando fomos ver e ouvir a gravação, ouvimos as primeiras, sem o boom conectado e, como o local era muito barulhento, não havia entrada para fone e tampouco local afastado seguro para testar o equipamento sem tanto barulho, achamos que o microfone estava funcionando.

Acontece! É isso o que se ouve de todo mundo ao contar o desastre. E acontece mesmo, ainda mais pra uma documentarista de primeira viagem – tinha dado tudo muito certo até então! Ainda não sei exatamente qual lição tirar do ocorrido, mas arrisco duas:

1 – Gravar com um dispositivo à parte da câmera e que permita o monitoramento de som durante a filmagem. Ou seja, vou ter que ir atrás de alugar ou comprar um gravador zoom.

2 – Quando não for possível usar esse gravador externo, testar o microfone antes de chegar ao local da gravação e, lá, dar um jeito - nem que seja tapando os ouvidos, entrando num carro, no banheiro, qualquer coisa - de conferir o áudio depois de cada entrevista, em vez de apenas uma vez antes de filmar. “Solução” bem precária, mas é isso aí se meter a fazer filme sem produtora!

Fiquei muito chateada, ainda mais porque tínhamos conseguido alguns personagens sensacionais que serão muito difíceis de encontrar novamente. Mas não se pode desanimar. Bola pra frente que ainda temos muito o que filmar! Apesar de tudo, ainda acho que esta aventura vale muito a pena!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

3º Dia de Filmagem – Prainha da Paulista

Pesquisa
Dizem que praia de paulistano é shopping, mas esses templos do consumo dividem este posto de ponto de fuga e relaxamento com os inúmeros bares da capital, mais numerosos que os shoppings – afinal, tem gente não vai ao shopping pra comprar, mas pra tomar umas na praça de alimentação ou até pra comprar uma birita no supermercado e beber na porta de entrada do shopping mesmo.

Mas pra quem trabalha o dia todo enclausurado num escritório, nada melhor que descer do arranha-céu depois do expediente e tomar uma gelada na calçada lá embaixo, vendo o movimento frenético da avenida – ela mesma, a Avenida Paulista. Em um documentário sobre o hábito de beber na cidade de São Paulo, não poderia deixar abordar os frequentadores da rua mais emblemática de cidade. E não foi difícil escolher o ponto exato da avenida para filmar: a esquina com a maior concentração de bares da rua.

Não estou falando apenas do bar “Prainha Paulista”, mas de todos os bares próximos a ele na esquina da Paulista com a Alameda Joaquim Eugênio de Lima e seu primeiro quarteirão no sentido do bairro dos Jardins, quase em frente ao famoso prédio da Gazeta e da Faculdade Cásper Líbero.


Torre da Gazeta, quase em frente à esquina da Prainha


Lá se reúnem desde executivos da região, trabalhadores de outros cantos da cidade que passam por ali no caminho pra casa, amigos de bairros longínquos que encontram na Paulista um ponto de encontro “no meio do caminho” entre todos e estudantes das faculdades e cursinhos da região. Por isso escolhi a locação e decidi filmá-la no happy hour, pois me interessava encontrar grupos de colegas de trabalho e o local é perfeito para isso.

Produção
Desta vez, foi ainda mais fácil que a segunda gravação. Os equipamentos foram os mesmos que usamos na última filmagem e a definição de câmeras também. O único tropeço foi quase ficarmos sem uma pessoa para operar a segunda câmera, mas no final, todos conseguiram chegar. Gabriel Portella na câmera principal, Taiana Ferraz na Câmera auxiliar e Fábio Cardoso Dellazzari, colega de trabalho do Gabriel na escola de cinema, 3D e animação MELIES, que ficou responsável pelo som.

Filmagem
Dia documentado: 11/08/11, quinta-feira, das 19h às 22h.

Devido ao trânsito paulistano, cheguei antes do resto da equipe e fez bastantes takes da avenida e dos bares enchendo. Tentei me camuflar na multidão de transeuntes para que as pessoas não ficassem incomodadas com minha presença e começassem a agir diferente. A lente 50mmf1.8 possibilitou obter imagens nítidas mesmo com pouca luz, só era preciso ficar bastante atento ao foco – mas brincar com enfoque e desfoque formou imagens bonitas que, talvez, possam ser usadas para passar uma sensação de turvamento da vista provocada pelo álcool; é uma ideia!

Esquina da Paulista com a rua dos bares, ao fundo se vê uma mesa de entrevistados

Quando a equipe chegou, fomos pedir permissão para filmar dentro de um dos bares mais cheios daquele quarteirão, o famoso “Prainha Paulista. O gerente foi super receptivo, no entanto, já havia um repórter da TV Cultura entrevistando alguns clientes. Por isso, decidimos começar filmando o bar exatamente na esquina com a Paulista, o “Café Creme”. Havia vários grupos animados sentados em mesas na calçada da Av. Paulista, onde a iluminação é privilegiada.

Depois de obter autorização do gerente, abordamos um grupo de colegas de trabalho de uma empresa de Tecnologia da Informação, vários homens e apenas uma mulher, com faixa etária entre os 25 e 35 anos de idade. Novamente, puxei uma cadeira, sentei-me junto a eles e optei pela conversa coletiva, começando com algumas perguntas e depois jogando temas polêmicos na roda.

A “tática” foi tão bem sucedida para fazer com que eles se sentissem à vontade, que o grupo continuou o assunto mesmo depois que passamos as autorizações de uso de imagem e som, desligamos as câmeras e fomos abordar outras mesas. Foi interessante observar como uma geração que foi adolescente há pouco tempo já tem uma percepção bem diferente sobre a maneira como os mais jovens de hoje bebem e conta histórias distintas das de hoje sobre como começou a beber.

Em seguida, abordamos uma mesa de executivos mais sérios, de terno, para tentar captar um ponto de vista diferente. Logo nos demos conta de que aquele era o Dia do Advogado e o famoso “Dia da Pindura”. Não vimos ninguém tentando pendurar a conta naqueles bares, mas encontramos muitos advogados comemorando sua data.

As entrevistas com advogados fora de seus escritórios foram muito interessantes, pois me permitiram abordar temas relacionados à regulamentação das bebidas alcoólicas – especialmente, no que diz respeito à presença massiva de jovens nas propagandas dessas bebidas – de maneira mais profunda. Falei com “especialistas”, mas sem cair em uma linguagem estritamente técnica, já que era uma conversa de bar, e não uma entrevista tradicionalmente séria.

Acredito que conseguimos depoimentos significativos junto ao tipo de público que esperávamos abordar. Faltou a presença de estudantes, que também imaginamos encontrar por ali, mas este público encontraremos nas próximas filmagens com certeza!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

2º Dia de Filmagem - Salve Jorge

Pesquisa
Quando pensei em um bar que reunisse famílias e pessoas de todas as idades, o Salve Jorge da Vila Madalena instantaneamente me ocorreu. Ele combina vários aspectos que o tornam interessante para a proposta do documentário: apesar de não ser muito antigo (foi inaugurado em 2004), tem um ar de bar tradicional, que mistura boa bebida a boa comida de boteco; remete a elementos da cultura popular brasileira através da alusão a seus vários jorges (São Jorge - padroeiro do Corinthians -, Jorge Bem, Jorge Mautner, Jorge Amado...) na decoração cheia de detalhes; é um dos mais procurados e sempre lotados de um dos pontos mais famosos por sua “boemia” na cidade. Além disso, reúne uma incrível variedade de famílias e amigos no almoço de domingo, em um ambiente descontraído e com luz e estética ótimas para filmagem.

Vista de dentro do bar em um almoço de domingo

Não sou frequentadora assídua, mas já havia bebido algumas vezes naquelas mesas e voltei lá alguns domingos para confirmar que o público era mesmo interessante para a proposta – e era! -, tirar algumas fotos para pensar em ângulos e planos e, é claro, pedir autorização aos responsáveis. Falei com o gerente, que me deu os contatos dos donos, Fábio e Flávio. Falei com o Fábio durante a semana e ele prontamente concedeu a autorização – com a ressalva de não incomodar os clientes, é claro. Sem problemas, afinal, só dá entrevista quem se sente à vontade, não é o tipo de coisa que vale a pena ou tem sentido forçar a barra.

Pré-produção
Desta vez, a operação toda foi bem mais fácil, uma vez que já tinha uma experiência anterior. Uma novidade também facilitou muito as coisas: comprei uma câmera Cânon T3i, que será usada como câmera principal. Além de facilitar muito a logística de empréstimos, pude me dedicar a aprender mais sobre como manipulá-la e testar diferentes possibilidades de imagem.


Detalhe do teto do Salve Jorge, que pode ser aberto e fechado conforme o tempo

Outro facilitador foi a data da gravação, um domingo, o que permitiu conseguir mais pessoas para compor a equipe de filmagem. Por isso, desta vez, peguei uma câmera Sony HandyCam emprestada da faculdade. Escolhi usá-la como auxiliar, porque é mais fácil de manipular, fazer movimentos mais livre e não exige tanta técnica, o que facilita na hora de encontrar uma pessoa que possa fazer o papel de segunda(o) câmera - já que, apesar de ter encontrado amigos muito dispostos a participar de todas as gravações, sempre podem ocorrer problemas de agenda e algum deles não poder ir. Além disso, como a imagem da primeira câmera é de alto padrão, seria difícil contar sempre com outra câmera do mesmo nível (já que as da faculdade são bem concorridas). E como a função de cada câmera é bem diferente e definida, fui aconselhada pelos técnicos a pegar esta câmera de mão, pois a mudança de imagem não ficará estranha ou incômoda, pode até ser uma “quebra”, um “respiro” na edição do filme.

Assim, a câmera principal terá a função de fazer os planos de localização do bar a ser filmado (filmar a fachada, a rua e as imediações), alguns planos gerais do bar e detalhes, além de planos mais abertos e fixos dos entrevistados, principalmente quando forem grupos de entrevistados, apesar de poder se mover um pouco de acordo com qual deles estiver falando mais. Já a câmera auxiliar vai ser usada principalmente durante as entrevistas, buscando focar detalhes e trejeitos dos entrevistados; além disso, filmará também um pouco dos bastidores.

Desta vez, a câmera principal foi operada, novamente, por Gabriel Portella e a câmera auxiliar pela Taiana Ferraz. Já o som ficou por conta do Gustavo Braga, meu namorado, também muito solidário e entendido no assunto.

Peguei um boom emprestado na faculdade e levamos o mesmo gravador zoom usado na primeira gravação. Ao testar os dois, escolhemos ficar com o zoom, já que o ambiente era bastante barulhento e este gravador com microfone acoplado permite fechar o ângulo de captação de som e direcioná-lo exatamente à boca do entrevistado, proporcionando uma captação bastante nítida, mesmo em ambientes como aquele.

Domingo em famílias
Dia documentado: 07/08/2011, domingo. (Mais um dia de sol depois de uma semana toda cinzenta – talvez seja sorte de principiante!)

Calçada em frente ao bar - filmar o entorno da locação ajuda a localizar o espectador 

Chegamos ao bar antes das 12h e ele ainda estava fechado. Filmamos a movimentação do pessoal se preparando para abrir e fizemos detalhes de trás do balcão, além de ir ganhando confiança dos funcionários, que nos ajudaram bastante durante o dia. Eu mesma filmei alguns takes, agora que aprendi a mexer com a câmera, o que pode deixar o documentário mais autoral.

Conforme iam chegando os clientes, fomos observando cada mesa com entrevistados em potencial e filmando cenas avulsas. Depois, abordamos alguns grupos de amigos e famílias que estavam bebendo e se mostraram mais descontraídos e abertos ao diálogo. Desta vez, decidi fazer “entrevistas” (conversas) em grupo, para não estragar o clima de interação entre as pessoas e aproveitar os debates que podiam surgir entre elas. Puxei uma cadeira para o canto da mesa e fui tentando me “enturmar”, mais do que entrevistar, porque queria conseguir um nível de descontração e familiaridade que possibilitasse conversas francas, papos de bar. Não queria que as pessoas se sentissem incomodadas ou inferiorizadas por entrevistá-las de pé, de cima, queria mostrar que o que elas têm a dizer é tão importante quanto o que um especialista sobre o assunto pensa, afinal, elas são as verdadeiras protagonistas da história que estamos construindo.


O resultado foi incrivelmente animador, melhor ainda do que eu esperava! Consegui depoimentos sinceros, debates interessantes entre os próprios entrevistados, que pareceram se esquecer da presença da câmera.

Ficamos lá até quase 17h e saímos exaustos, mas muito felizes!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

1º Dia de Filmagem - Bar do Russo


Pesquisa
Não propositadamente, as filmagens começaram do começo - com as cenas que provavelmente abrirão o filme. Queria mostrar um bar abrindo bem cedo e as pessoas que já vão tomar umas logo de manhã. Fui procurar lugares assim no centro da cidade, mas não encontrei, apenas alguns moradores de rua já alcoolizados desde a madrugada. A maior parte das pessoas que passava por ali eram trabalhadores que iam apenas tomar café da manhã antes de entrar no escritório. 

Pensei então que fazia mais sentido este tipo de bar estar nos bairros, mais perto das casas das pessoas que acordam cedo e já vão beber. Falei sobre isso com meu avô, que mora bem perto da minha casa, e ele disse que conhecia um lugar perfeito para a gravação: o bar de um amigo de longa data dele (hoje gerido pelo filho) que abre todo dia por volta das 8 da manhã e logo se enche de clientes - ele mesmo costumava frequentá-lo quando ainda podia beber.
 
Ele me levou até lá e tive a certeza de que era, realmente, a locação perfeita. Um bar no bairro do Ferreira, zona oeste, simples, antigo, cheio de história nas paredes, prateleiras e com seus frequentadores - a maioria antigos conhecidos -, um ambiente familiar com a descontração necessária para o surgimento de depoimentos sinceros, histórias de vida e causos de boteco. 


Primeira visita ao Bar do Russo (meu avô de verde e o dono do bar de azul)

A familiaridade com meu avô foi um ponto importante para a aceitação da minha proposta de filmar lá, já que o dono do bar e os clientes se sentiram mais seguros para confiar em mim e minha equipe. No entanto, a indicação do meu avô não me tornava parcial ao filmar lá, já que aquele ambiente era completamente novo para mim e guardava aquele distanciamento necessário para uma abordagem documental.

Pré-produção
Escolhida a locação, voltei lá para fotografá-la e desenhar uma "planta baixa" do bar para mostrar ao resto da equipe - principalmente o câmera - que não pode ir junto comigo na fase de pesquisa. Assim, pudemos pensar em alguns posicionamentos de câmera interessantes de acordo com a disposição dos elementos do local e a luz. Isso também nos ajudou a fazer uma lista de takes para não esquecer na hora de gravar.


Planta baixa feita por Tina Escaleira (nada como uma mãe arquiteta)


Fotografar detalhes ajuda a pensar em planos interessantes

Além disso, tive que reunir a equipe, já que o TCC na ECA - USP é individual, mas é impossível fazer uma gravação de qualidade só. Neste dia, foram me ajudar o Gabriel Portella como câmera - um amigo solidário entendido no assunto que abraçou o projeto desde o começo e me ajudará com a câmera a e edição sempre que possível - e a Taiana Ferraz cuidando do som - recém-formada em Jornalismo na ECA e autora de um documentário sobre alambiques de cachaça como TCC que agora está me ajudando com o meu sempre que pode.

Também tive que ir atrás dos equipamentos, na base do empréstimo e aluguel, já que o empréstimo da faculdade estava fechado para férias. Conseguimos uma câmera Cânon 7D com um amigo do Gabriel e um gravador de áudio digital "zoom" com outro amigo dele. O microfone de lapela, aluguei com um técnico de som. O transporte da equipe, os lanchinhos e extras - pilhas, rebatedores de luz, etc. - também foram por minha conta. Outra coisa importante que também tenho que lembrar é de imprimir as autorizações de uso de imagem e som dos entrevistados e do estabelecimento onde vamos gravar.
 
Escrito, parece pouca coisa, mas na prática, dá um trabalho enorme, ainda mais quando é sua primeira vez como produtora, diretora e entrevistadora ao mesmo tempo. Haja visto que o receio de esquecer alguma coisa ou dar algo errado não me deixou dormir e isso prejudicou meu desempenho durante a filmagem no dia seguinte.

Finalmente, a filmagem!
Dia documentado: 26/07/2011, terça-feira, das 8h às 11h.


Com um sol maravilhoso após vários dias cinzas, chegamos ao bar ainda fechado e fizemos alguns takes do movimento na rua. Infelizmente, não tinha ninguém esperando o bar abrir para beber, mas logo chegaram dois garis que ficaram esperando a abertura para tomar café. Então filmamos Júlio - o dono e único funcionário do bar - abrindo aquelas portas de enrolar antigas vistas de fora e depois de dentro. São cenas interessantes para a abertura do filme, talvez.


Fachada do bar

Detalhe da porta aberta

Logo foram chegando os clientes e filmamos um pouco das conversas deles, sem intervir. Depois fomos sendo apresentados aos frequentadores pelo Júlio e alguns deles foram topando dar entrevista. Como eram senhores de idade e eu queria que eles me contassem histórias antigas, causos e tudo mais, achei melhor falar com um de cada vez, para poder dar mais atenção a cada um deles e fazer com que se sentissem à vontade pra falar.
Deu tudo certo, mas minha noite não dormida começou a incomodar o dia e eu não estava conseguindo me deixar levar nas conversas, às vezes esquecia o que queria perguntar e tinha que olhar a pauta sempre, o que deixou as entrevistas um pouco mais truncadas do que gostaria. Elas também foram um pouco mais apressadas do que deveriam e fiquei sentindo vontade de voltar lá outro dia mais pra frente. Mas talvez isso seja meu perfeccionismo falando mais alto, porque o resultado geral foi sucesso!
 
Tenho certeza de que as próximas filmagens fluirão melhor sem a ansiedade da primeira vez!


domingo, 14 de agosto de 2011

Mutante e imprevisível

Na minha modesta opinião, estas são as principais características de um documentário e este não está fugindo à regra. É um mutante desde o germe da ideia inicial. O projeto publicado aqui é a décima versão de um estalo de vontade de falar sobre um assunto que custou muito para ser organizado coerentemente e materializado em letras. E já que o primeiro post tem um ar de apresentação, vou contar um pouco da história dessa ideia mutante e imprevisível aos que tiverem curiosidade e paciência para ler.

Tudo começou como o “óbvio surpreendente”, numa mesa de bar. De lá, observava outras mesas e apreciava a naturalidade com que todos se juntavam àquele “ritual” de beber. Os frequentadores pareciam tão familiarizados com todo aquele ambiente e seus códigos invisíveis, que era como se aquilo tudo fizesse parte do instinto humano, sequer fosse preciso aprender. Mas aprendi na faculdade, nos livros e na vida que hoje em dia quase nada é apenas instinto no caso dos humanos, afinal, somos um tipo de animal que vive em sociedade, que nos constrói e é construída por nós. Então o hábito de consumir bebidas alcoólicas não pode ser simplesmente “natural do ser humano”, como a necessidade de comer ou tomar água. É possível que buscar um estado de alteração de consciência seja uma necessidade natural do homo sapiens sapiens, mas eleger o álcool como principal meio de se chegar a isso é algo construído e perpetuado por estruturas sociais em detrimento de outros hábitos e outras substâncias que podem levar a resultados semelhantes.


Visão de um dos bares que inspiraram o documentário


Mais do que um hábito, o consumo de bebidas alcoólicas é parte de nossa cultura e envolve uma cultura própria, cheia de especificidades, contradições, regras e simbolismos – e isso tudo, inclusive a estética das bebidas alcoólicas, dos ambientes em que se bebe e das pessoas embriagadas ou abstêmias me fascinava. Decidi que precisava contar essa história, não para chegar a alguma conclusão ou confirmar alguma hipótese, mas para documentar este espaço cultural tão rico e mutante, que tanto influi em nossa sociedade – de maneira positiva e negativa. Inseparável desta decisão, veio a escolha pelo meio audiovisual, uma vez que não via outra maneira de fazer essa documentação, senão simplesmente filmando as pessoas bebendo.

Queria contar a história do hábito de beber entre os paulistas, revisitar suas origens e passear pelas décadas entre umas e outras, além de discutir sua importância atual e para onde parece estar rumando. Mas logo tive os pés puxados de volta para o chão pelo meu orientador e outras pessoas com quem conversei, afinal, era assunto demais pra 30 minutos de filme, corria o risco de não conseguir dar conta de tudo ou de criar uma enciclopédia animada cheia de superficialidade. Definitivamente, não era isso o que eu queria.

Fui incentivada a fazer um “mergulho” no assunto para encontrar um foco, um ponto de conflito latente dentro deste tema que possibilitasse aprofundamento. Pensei em comparar o álcool a outras drogas ilícitas, em ir a um grupo de Alcoólicos Anônimos, em falar apenas dos bares ou contar a história de um bar específico, mas nenhum destes temas me agradou por completo. Fui devorando pesquisas e informações sobre o consumo do álcool no Brasil – é a droga mais consumida e com maior número de dependentes, assustadores 12,3% da população em 2005 – e cheguei à conclusão de que a maior mudança nos últimos anos é que os jovens estão bebendo cada vez mais e estão começando a beber cada vez mais cedo, por volta dos 12 anos de idade.

Decidi então falar sobre álcool e jovens, mas não apenas sobre a geração atual, tentar reconstruir a história da relação das últimas gerações com o álcool também, afinal, os jovens não se formam sozinhos, recebem educação de seus ascendentes. Re-reescrevi o projeto e até montei um pré-roteiro, mesclando depoimentos de bebedores de todas as gerações à discussão de temas específicos do consumo de álcool entre jovens por “especialistas”. Então percebi que continuava querendo abraçar o mundo, afinal as especificidades do tema “álcool e jovens” são diversas e complexas. Novamente, corria o risco de fazer algo muito superficial.

Outra conversa de bar inspiradora

Finalmente, percebi que o que me instigava não eram os problemas envolvendo o consumo de álcool entre os jovens, mas a maneira como e por quê eles bebem, bem como a maneira como e por quê as gerações anteriores bebem e bebiam em sua juventude. As diferentes relações das pessoas com o álcool que coexistem hoje em dia e que, talvez, tenham passado e continuem passando por processos de mudança. Percebi também que não me interessava tanto a opinião de especialistas sobre o assunto, como os depoimentos de pessoas comuns, como eu, que bebem e sabem, ao mesmo tempo que não sabem muito bem o porquê. Me interessa essa contradição e essa pluralidade de olhares sobre algo tão “comum” quanto polêmico.

Por fim, decidi ficar com esta última mutação da ideia (até agora) e, para estruturá-la em uma narrativa, escolhi fazer um filme que seguisse a linha do tempo de um dia em São Paulo – onde à qualquer hora, tem sempre alguém bebendo! Além de buscar bebedores à cada hora do dia, fiz um roteiro de gravação em lugares bem conhecidos entre os paulistanos, mas que reúnem diferentes tipos de público, principalmente, no que diz respeito à faixa etária. Inspirada no documentário “Opinião Pública”, de Arnaldo Jabor, minha missão será dar voz a paulistanos de todas as idades e ocupações para que falem sobre sua relação com o hábito de beber e discutam entre si questões importantes relacionadas a ele, atuando mais como “instigadora” do que como “entrevistadora”. Ao mesmo tempo, buscarei documentar a maneira como as pessoas bebem, como se portam nos bares, os trejeitos, os jogos, os códigos sociais e toda cultura relacionada ao consumo do álcool na cidade.


Esta é a ideia, o projeto e a intenção. Isto até a aparição do componente imprevisível, que só se manifesta na hora da filmagem. Seja bem vindo!